Resumo
A dinâmica fluvial de uma bacia hidrográfica reflete inter-relações existentes entre os sistemas solo e água bem como as modificações produzidas nestes. A bacia do Ribeirão Sardinha, localizada na porção sul do Quadrilátero Ferrífero, abarca diferentes litotipos geológicos que condicionam distintos usos e cobertura do solo, influenciando diretamente nos processos erosivos da região. O presente trabalho objetiva analisar a influência do uso e cobertura do solo nos processos erosivos da Bacia do Ribeirão Sardinha a partir do monitoramento da turbidez das águas fluviais desta. A turbidez é um dos principais parâmetros de qualidade das águas capaz de demonstrar impactos da erosão acelerada. Nesse sentido, busca-se também identificar possíveis mudanças na dinâmica fluvial do vale decorrente de tais processos erosivos. Para tanto foi realizado um mapeamento de uso, pressões e cobertura do solo da bacia auxiliado por SIG e trabalhos de campo. As análises da turbidez foram realizadas no período úmido e seco, feitas por meio de um turbidímetro. Os resultados demonstraram que as taxas de turbidez observadas no curso do Ribeirão Sardinha sofrem aumento considerável após a confluência com o Ribeirão do Mango, afluente da margem direita. Pode-se inferir que o grande aporte de sedimentos carreados para os cursos fluviais da bacia do Ribeirão se deve ao número considerável de focos de erosão acelerada concentrados na alta bacia nas rochas do Super Grupo Minas, fato raro ao se considerar as outras bacias do Quadrilátero Ferrífero onde os voçorocamentos se concentram nas rochas friáveis do
embasamento. Na média-baixa bacia o aporte de sedimentos pode ser explicado pelas atividades agropastoris, que se concentram, por sua vez, nas rochas do embasamento. O trabalho permite confirmar que a dinâmica fluvial no vale estudado vem sendo influenciada por condicionamento neotectônico e pelas atividades humanas, confirmando os resultados encontrados em outros vales da região.
Palavras-chave: Turbidez; Erosão; Ribeirão Sardinha.
INTRODUÇÃO
Os estudos sobre recursos hídricos ou ambientes aquáticos geralmente tomam como unidade de referência a bacia hidrográfica. Suas características topográficas, geológicas, geomorfológicas, pedológicas e térmicas, bem como o tipo de cobertura da bacia, desempenham papel essencial no comportamento hidrológico (SILVA et al, 2003). Desse modo, os cursos d’água podem refletir pressões antrópicas cujas características alteram diferencialmente determinados parâmetros da água.
Diversas são as atividades empreendidas que podem interferir nos ambientes fluviais, traduzindo-se na alteração de diversos aspectos da qualidade das águas, seja físico, químico ou biológico. Essas atividades se constituem em pressões sobre os ambientes fluviais e podem trazer conseqüências diretas ou indiretas para o regime hidrológico e para o padrão fluvial do corpo d’água.
As pressões podem incidir direta ou indiretamente sobre os ambientes fluviais, podem ser atividades praticadas na bacia hidrográfica ou podem ser o resultado de atividades já desenvolvidas ou ainda em desenvolvimento. O termo pressão corresponde a Aspecto Ambiental introduzido pela norma ISSO 14.001 e pode ser entendido como o mecanismo através do qual uma ação humana causa um impacto ambiental. Impacto ambiental, por sua vez, diz respeito à alteração da qualidade ambiental resultante de uma pressão no ambiente (SÁNCHEZ, 2008). No presente trabalho, o termo impacto refere-se às alterações das características dos ambientes fluviais.
Algumas das grandes causas de pressões e impactos nos ambientes fluviais decorrem intensificação de processos erosivos em uma bacia hidrográfica. Erosão laminar e a erosão de fluxo concentrado (sulcos, ravinas e voçorocas) podem ser intensificadas pelo manejo inadequado do solo. Além disso, outras atividades como mineração a céu aberto, urbanização, construção de estradas, dentre outras, são fontes de sedimentos que podem ser facilmente carreados durante as chuvas para os corpos d’água.
Diversos autores apontam para a necessidade de conhecer os usos e cobertura de uma bacia hidrográfica para melhor compreender sua dinâmica fluvial (SANTOS, 2005; SANTOS, et al, 2007; LOPES et al, 2007; BONNET, et al, 2008), tendo em vista que as características físico-químicas dos cursos fluviais refletem a inter-relação existente entre o solo e a água. Outros autores apresentam a importância de se conhecer a dinâmica fluvial de um curso d’água por meio de seus depósitos fluviais pretéritos e atuais, a fim de se identificar possíveis mudanças nos padrões fluviais dos vales (MAGALHÃES,1994; SANTOS, 2008 ).
Um dos principais parâmetros de qualidade da água capaz de demonstrar impactos da erosão acelerada nos cursos fluviais é a Turbidez. Ela é expressa por uma medida arbitrária adotada por uma determinada unidade, sendo normalmente utilizada a Unidade Nefelométrica de Turbidez – UNT. A Turbidez representa o grau de interferência da passagem de luz na água, conferindo-lhe uma aparência turva. Os principais constituintes responsáveis pela Turbidez são os sólidos em suspensão, que podem possuir origem natural (partículas de rochas, argilas, algas e outros) ou antropogênica (despejos domésticos, industriais, escavações, produtos de erosões provocadas por atividades antrópicas e microorganismos) (VON SPERLING, 1996, apud SANTOS et al, 2007).
Tendo em vista tais considerações, o presente trabalho tem por objetivo analisar a influência do uso e cobertura do solo nos processos erosivos da Bacia do Ribeirão Sardinha, tendo por princípio os parâmetros de Turbidez, tentando identificar possíveis mudanças na dinâmica fluvial do vale decorrentes de tais processos.
A Bacia do Ribeirão Sardinha constitui-se em uma micro-bacia do Rio Itabirito, afluente de margem esquerda do Rio das Velhas. A bacia apresenta diversos usos do solo, bem como impactos que se constituem em pressões para os ambientes fluviais. É notada a presença de atividades agropastoris além da alta concentração de focos de erosão acelerada em suas cabeceiras, fatores possivelmente associados aos trechos de assoreamento dos cursos fluviais da bacia em questão. Além disso, a dinâmica fluvial recente da bacia é bastante condicionada por níveis deposicionais pretéritos, principalmente ao longo do Ribeirão do Mango, principal afluente do Ribeirão Sardinha.
MATERIAIS E MÉTODOS
Caracterização da Área de Estudo
A Bacia do Ribeirão Sardinha se localiza na porção noroeste do município de Ouro Preto, Minas Gerais, entre as longitudes 624021E e 639743E e latitudes 7754611N e 7738440N, com uma área de 121,16 Km2 (Figura 1). A bacia conta com dois principais cursos d’água, a saber: o curso do Ribeirão Sardinha, na porção oeste da bacia e o curso do Ribeirão do Mango, na porção leste (Figura 2). Embora este apresente maior vazão e extensão que aquele, após a confluência dos dois ribeirões o curso fluvial passa a se denominar Ribeirão Sardinha. Esse ribeirão deságua no Ribeirão Mata Porcos, que, por sua vez, tem sua foz em um dos principais afluentes do Alto Rio das Velhas, o Rio Itabirito.
A rede de drenagem que recorta a área tem direção NW-SE e sua baixa bacia se instala ao longo das principais descontinuidades tectônicas do embasamento cristalino. Comumente, ao longo desse curso d’água são encontradas soleiras rochosas que estabelecem importantes níveis de base locais na região (VALADÃO & SILVEIRA, 1992).
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