Resumo
A geomorfologia fluvial brasileira apresenta poucos trabalhos que tratam dos níveis e seqüências deposicionais de sistemas fluviais em ambientes montanhosos. Este é o caso dos canais que nascem e cortam as bordas do Quadrilátero Ferrífero, um importante domínio geológico e geomorfológico de Minas Gerais. O Quadrilátero é delimitado por conjuntos serranos modelados em quartzitos e itabiritos do Supergrupo Minas e apresenta em seu interior uma suíte intrusiva cristalina altamente friável, o que favorece o desenvolvimento dos vales fluviais e de feições como planícies e terraços. Este trabalho objetiva levantar, mapear e caracterizar os níveis e seqüências deposicionais fluviais no vale do Ribeirão do Mango, afluente do Rio Itabirito, um dos principais canais que drenam as águas do Quadrilátero Ferrífero. O vale desse curso representa os sistemas fluviais em ambiente montanhoso da região, marcados por elevada energia e grande variedade litológica e estrutural. A interpretação dos registros sedimentares encontrados permite dizer que a dinâmica fluvial no vale estudado vem sendo influenciada por condicionamento neotectônico e pelas atividades humanas, confirmando os resultados encontrados em outros vales da região.
Palavras-chave: geomorfologia fluvial, Quadrilátero Ferrífero, Ribeirão do Mango.
Introduction
No campo da geomorfologia fluvial brasileira, não têm sido comuns os estudos sobre feições, processos e dinâmica de sistemas fluviais de ambientes montanhosos marcados por um contexto favorável a condições hidrossedimentológicas de alta energia. Este é o caso dos canais que nascem e cortam as bordas do Quadrilátero Ferrífero, um dos mais importantes domínios geológicos e geomorfológicos de Minas Gerais.
A maior parte dos estudos de investigação de registros deposicionais fluviais se valem da identificação e caracterização de seqüências estratigráficas aluviais presentes em níveis de terraços e de várzea. A literatura aponta diferentes tipologias de níveis de terraços, bem como condições para a sua formação (Christofoletti, 1974; Suguio et al., 1980; Petts & Foster, 1985). Neste sentido, terraços escalonados, embutidos e de recobrimento vêm auxiliando a reconstituição do passado geomorfológico de vales fluviais em todo o mundo (Bridge, 2003; Kondolf & Piégay, 2003; Charlton, 2008).
Partindo desses pressupostos, o presente trabalho objetiva levantar, caracterizar e mapear os registros de níveis e seqüências deposicionais fluviais no vale do Ribeirão do Mango, afluente do Rio Itabirito, um dos principais afluentes do Rio das Velhas em seu alto curso. O trabalho pode permitir a complementação das informações sobre a geomorfologia fluvial da bacia do alto Rio das Velhas no Quadrilátero Ferrífero, auxiliando a comparação de resultados com os estudos realizados em outros vales regionais (Valadão e Silveira, 1992; Magalhães Jr., 1994; Magalhães Jr e Saadi, 1994; Bacellar, 2000). A escolha do vale do Ribeirão do Mango também é justificada pela escassez de trabalhos geomorfológicos nessa área, não tendo sido encontrado nenhum estudo específico no vale em questão. O estudo foi baseado em interpretação de fotos aéreas ortorretificadas (CEMIG, 1989) e trabalhos de campo para levantamento e confirmação in locu das informações. As seqüências deposicionais foram analisadas quanto ao arranjo espacial, distribuição, organização, tipologias e características das fácies (como cor e textura). Foram construídos perfis estratigráficos representativos para cada nível deposicional.
Caracterizações da Área
A bacia do ribeirão do mango se localiza entre os meridianos 43°40’W e 43°46’W e os paralelos 20°20’S e 20°27’S, abrangendo em sua maior parte o município de Ouro Preto. A rede de drenagem que recorta a área tem direção NW-SE e se instala ao longo das principais descontinuidades tectônicas do embasamento cristalino (Figura 1). Comumente, ao longo desse curso d’água são encontradas soleiras rochosas que estabelecem importantes níveis de base locais na região (Valadão e Silveira, 1992).
A bacia hidrográfica do ribeirão do Mango está contida nas seguintes unidades geológicas do Quadrilátero Ferrífero, segundo Dorr (1969) (Figura 1):
- complexo granítico-gnáissico, localmente denominado Complexo Bação, composto por gnaisses, metatonalitos a gnaisses, migmatitos, anfibólitos, metaultramáficos e pegmatitos, de idade arqueana e que constitui o embasamento cristalino para as unidades supracrustais;
- Supergrupo Rio das Velhas, que se constitui como uma seqüência do tipo cinturão de xistos verdes (greenstone belt), também de idade arqueana; e
- Supergrupo Minas, formado por pacotes espessos de rochas metassedimentares proterozóicas com pequena contribuição vulcânica. Destacam-se quartzitos, itabiritos e filitos.
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