Resumo
Atividades humanas em bacias hidrográficas podem se constituir em pressões na dinâmica fluvial e ambientes aquáticos, incidindo direta ou indiretamente sobre suas características naturais. As pressões podem alterar parâmetros de qualidade da água como a turbidez, diretamente condicionada pela carga em suspensão transportada pelos cursos d’água. Essa carga reflete as taxas de sedimentos fornecidas pelas encostas e fundos de vales, e podem ser significativamente aumentadas por atividades humanas que provoquem o surgimento de focos de erosão acelerada. Assim, pressões como o uso inadequado do solo podem gerar impactos como o aumento da carga em suspensão e, posteriormente, o assoreamento das calhas fluviais. A turbidez também é um indicador do lançamento de efluentes domésticos em cursos fluviais. Este trabalho busca verificar, por meio da análise das taxas de turbidez das águas fluviais, a relação entre usos e atividades humanas e o aumento da carga sedimentar em suspensão na bacia do rio Itabirito, município homônimo situado no Quadrilátero Ferrífero-MG. Para tal, construiu-se um mapa temático de pressões, impactos e cobertura do solo da bacia por meio de imagens de alta resolução do Google Earth Pro, georreferenciadas, vetorizadas manualmente e com conferência em campo. As informações obtidas no mapeamento foram comparadas aos valores de turbidez de pontos monitorados nas estações seca e úmida. A bacia é marcada pela presença de atividades de mineração, usos agropastoris, estradas de terra e usos urbanos. A distribuição espacial dessas classes está relacionada à litologia. Observa-se, na maior parte dos pontos, aumento nas taxas de turbidez na estação chuvosa, associada principalmente ao grande aporte de sedimentos carreados durante as chuvas. O rio Itabirito apresentou altos índices de turbidez na estação chuvosa, provavelmente relacionados à carga sedimentar de seus tributários. Na estação seca, os pontos com turbidez elevada estão relacionados principalmente com o lançamento de efluentes domésticos e industriais.
Palavras-chave: geomorfologia fluvial; turbidez; Quadrilátero Ferrífero.
INTRODUÇÃO
Os estudos sobre recursos hídricos ou ambientes aquáticos geralmente tomam a bacia hidrográfica como unidade de referência. Esta pode ser considerada como sistema geomorfológico complexo, e, para que seja bem compreendido, é necessário considerá-lo em sua totalidade e identificar os subsistemas que o constituem, assim como suas inter-relações, os mecanismos de realimentação presentes, além das influências antrópicas (PEREZ-FILHO et al, 2006; SANTOS, 2008). As características topográficas, geológicas, geomorfológicas, pedológicas e térmicas da bacia hidrográfica, bem como o tipo de cobertura do solo da mesma, desempenham papel essencial no comportamento hidrológico.
Todos os processos que ocorrem na bacia hidrográfica repercutem direta ou indiretamente nos canais fluviais. Os cursos d´água são importantes agentes geomorfológicos no transporte de materiais intemperizados das encostas, sendo determinantes na configuração da morfologia. A carga detrítica de um curso d’água é obtida pela ação erosiva que as águas exercem sobre as margens e fundo do leito. Contudo, a maior parte é fornecida pela remoção detrítica das vertentes (CHRISTOFOLETTI, 1974).
Diversas são as atividades empreendidas em uma bacia hidrográfica que podem interferir nos ambientes fluviais, traduzindo-se na alteração de diversos aspectos da qualidade das águas, sejam eles físicos, químicos ou biológicos. O uso do solo das vertentes de uma bacia, portanto, pode alterar as características de seus canais fluviais. Atividades passíveis de condicionar alterações em quaisquer desses parâmetros se constituem em pressões ocorrentes na bacia hidrográfica, e essas pressões podem impactar o regime hidrológico da bacia, ou os padrões fluviais de seus cursos d’água. As pressões podem incidir direta ou indiretamente sobre os ambientes fluviais, podem ser atividades praticadas na bacia hidrográfica ou podem ser o resultado de atividades já desenvolvidas ou ainda em desenvolvimento na mesma. Conforme aponta Tommasi (1994), os cursos d’água são sistemas reconhecidamente frágeis, nos quais interferências humanas, diretas ou indiretas, podem acarretar impactos de difícil controle e reversão.
Os impactos dizem respeito às alterações das características dos ambientes fluviais. Ocorre um impacto ambiental em um curso d’água quando uma ação, atividade ou processo gera alguma alteração (qualquer que seja) em suas características físicas, químicas ou biológicas, com conseqüências favoráveis ou desfavoráveis. Tais alterações levam a mudanças nas características ambientais originais, e suas causas podem ou não estar relacionadas à interferência humana. Quaisquer ações empreendidas para implantar ou desenvolver ações ou atividades de ocupação e uso antrópico sobre o meio ambiente possibilitam transformações (mudanças) sobre os meios físico, sócio-econômico e biótico, que podem acarretar impactos positivos ou negativos ao meio ambiente (GENRICH, 2002).
Uma conseqüência comum de determinadas atividades humanas é a intensificação dos processos erosivos na bacia. Erosão laminar e erosão de fluxo concentrado podem ser ocasionadas ou intensificadas pelo manejo inadequado do solo. Além disso, atividades como mineração a céu aberto, urbanização, ou construção de estradas, são fontes de sedimentos que podem ser facilmente carreados durante as chuvas para os corpos d’água. Por isso, o conhecimento do uso e cobertura do solo é essencial para a compreensão da dinâmica erosiva em uma bacia hidrográfica (SANTOS, 2005; SANTOS, et al, 2007; LOPES et al, 2007; BONNET, et al, 2008).
A qualidade das águas pode ser caracterizada por vários parâmetros físicos, químicos ou biológicos, cada qual indicando atividades e usos humanos que podem explicar os impactos ambientais em uma bacia. A turbidez expressa a quantidade de material em suspensão que se encontra na água, podendo ser usada como uma medida direta dessa quantidade. Os sólidos em suspensão transportados pelas águas – silte, argila, detritos orgânicos e plâncton em geral – podem possuir origem natural (sedimentos) ou antropogênica (despejos domésticos, industriais, escavações, sedimentos carreados a partir de usos e atividades antrópicas), e contribuem para a elevação da turbidez, que diz respeito ao nível de interferência sofrida pela luz ao passar através da água, conferindo um aspecto turvo à mesma (SANTOS et al, 2007).
A turbidez tem sido adotada por diversos estudiosos para a determinação da qualidade da água, geralmente associada à erosão acelerada ou ao lançamento de efluentes domésticos em cursos fluviais. Contudo, também tem sido enfocada no estudo de processos geomorfológicos de encosta e fluviais, sinalizando a dinâmica dos processos erosivos e sedimentares (LOPES et al, 2007).
O Rio Itabirito, situado na Alta Bacia do Rio das Velhas, é um dos principais afluentes desta. Situada no domínio geológico e geomorfológico do Quadrilátero Ferrífero, a bacia responde pelo abastecimento de água de grande parte da população da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os usos do solo e as atividades humanas na área se constituem em pressões para os ambientes fluviais, as quais muitas vezes se refletem em conseqüências impactantes sobre as características físicas, químicas e/ou biológicas dos cursos d´água. É notada a presença de atividades de mineração, atividades agropastoris, extração de areia nos cursos fluviais, bem como considerável quantidade de focos de erosão acelerada nas vertentes.
Desse modo, este trabalho busca verificar a relação entre os usos e atividades humanas e o aumento da carga sedimentar em suspensão nas águas da bacia do Rio Itabirito, tendo por parâmetro indicador a turbidez.
MATERIAIS E MÉTODOS
Localização e caracterização da área de estudo
A bacia do Rio Itabirito é uma das principais formadoras da bacia do Alto Rio das Velhas. O Rio Itabirito nasce da confluência entre os Ribeirões Mata Porcos e Sardinha, tendo uma bacia hidrográfica com área total de 519,248 Km² e compreendendo parte dos municípios de Rio Acima, Ouro Preto e Itabirito. A maior parte de suas nascentes se encontra nos dois últimos municípios, enquanto no primeiro se encontra a foz no Rio das Velhas (Figura 1).
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