Análise Comparativa entre os Eventos Deposicionais Fluviais Cenozóicos nos Vales do Rio Maracujá e Ribeirão do Mango – Quadrilátero Ferrífero/ MG.

Resumo

O Quadrilátero Ferrífero, MG é um dos mais importantes domínios geomorfológicos e geológicos de Minas Gerais, abrangendo a bacia do alto Rio das Velhas, afluente do Rio São Francisco. Enquanto as zonas serranas que delimitam o Quadrilátero são áreas preferenciais para movimentos de massa e presentam cursos d’água muito encaixados, a porção interior suavizada, que coincide com as rochas friáveis do Complexo do Bação (embasamento cristalino), é marcada por inúmeros voçorocamentos e permite o desenvolvimento das planícies fluviais. Apesar da riqueza em feições e processos geomorfológicos, o Quadrilátero é pouco estudado quanto à reconstituição da dinâmica fluvial cenozóica dos cursos d´água. O presente trabalho objetiva a comparação e correlação dos eventos deposicionais fluviais cenozóicos dos vales do rio Maracujá e Ribeirão do Mango, dois dos principais formadores da bacia do alto Rio das Velhas no Quadrilátero, a partir do levantamento e análise de níveis e seqüências sedimentares. Os estudos foram baseados em descrição e espacialização comparada de feições e formações deposicionais, a partir de análises de imagens e trabalhos de campo. Os resultados mostram que é possível correlacionar os depósitos do T2 do Maracujá com os do T3 do Mango, bem como os depósitos do T2 deste com os do T1 daquele. Além disso, o T4 do Ribeirão do Mango teria sido formado junto ao T3 do Rio das Velhas. O estudo aponta para uma morfodinâmica mais acelerada na bacia do Ribeirão do Mango, o que pode ser resposta a uma carga sedimentar mais elevada e ao encouraçamento do leito do rio.
Palavras-chave: geomorfologia fluvial, Rio Maracujá, Ribeirão do Mango, Quadrilátero Ferrífero.

Introduction

A análise estratigráfica em bacias hidrográficas permite a compreensão da evolução morfodinâmica de uma área a partir dos registros/respostas de eventos deposicionais e desnudacionais, servindo muitas vezes, como a chave de explicação da gênese das formas e da operação dos processos (Magalhães Jr., 1994). Nesse sentido, uma das abordagens mais utilizadas na interpretação de depósitos fluviais é a estratigrafia genética (Gama Jr., 1989).

Nos estudos de geomorfologia fluvial são largamente estudados os níveis de terraços e as planícies de inundação. A literatura aponta diferentes tipologias de níveis de terraços, bem como condições para a sua formação (Christofoletti, 1974; Suguio et al., 1980; Petts & Foster, 1985). Neste sentido, terraços escalonados, embutidos e de recobrimento vêm auxiliando a reconstituição do passado geomorfológico de vales fluviais em todo o mundo (Bridge, 2003; Kondolf & Piégay, 2003; Charlton, 2008).

Porém, pouco tem sido abordado sobre cursos d’água em áreas serranas, marcados por dinâmica fluvial descontínua afetada por variações nas características geológicas e geomorfológicas (Castro et al, 2005). Este é o caso de grande parte dos vales do Rio Maracujá e do Ribeirão do Mango, que nascem e cortam as bordas serranas do Quadrilátero Ferrífero e são dois importantes formadores da bacia do alto Rio das Velhas. De modo peculiar, ambos os vales cortam as principais litologias do Quadrilátero.

Este artigo busca caracterizar e comparar os registros deposicionais fluviais encontrados nestes dois vales (níveis e formações aluviais), os quais atestam os eventos morfodinâmicos associados à evolução e abertura de ambos ao longo do Cenozóico. Neste sentido, os registros permitem comparações entre a evolução geomorfológica fluvial dos dois vales, contribuindo para a compreensão da história geomorfológica da bacia do alto Velhas e do próprio Quadrilátero.

O estudo foi baseado em trabalhos de campo. As seqüências deposicionais foram analisadas quanto ao arranjo espacial, distribuição, organização, tipologias e características das fácies (como cor, textura e litologia dos seixos). Foram construídos perfis estratigráficos representativos para cada nível deposicional e buscou-se analisar os eventos desnudacionais e deposicionais responsáveis pela formação de ambos os vales.

Caracterização Da Área de Estudo

As bacias do Ribeirão do Mango e Rio Maracujá compartilham o mesmo divisor de águas e se encontram em sua maior parte no município de Ouro Preto, na porção sul do Quadrilátero Ferrífero. Este domínio delimita, grosso modo, a bacia do alto Rio das Velhas. No entanto, enquanto o Rio Maracujá é afluente direto do Velhas, o Ribeirão do Mango está inserido na sub-bacia do Rio Itabirito. A geologia da área foi sistematizada por Dorr (1969) que subdividiu o domínio em três unidades principais: Complexos metamórficos, Supergrupo Minas e Supergrupo Rio das Velhas (Figura 1).

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