A crise climática está dando um novo tom no modelo de negócios, o que antes era um risco, passa a ser uma oportunidade, e os Conselheiros cada vez mais sentem a “pressão” de assegurarem um tratamento adequado a esses desafios.
O Impacto da Crise Climática nos Negócios
Estamos passando por mudanças drásticas do clima que podem alterar toda a economia de um país. O Brasil, neste segundo semestre de 2024, já sofre com a estiagem que vem afetando vários estados, principalmente com queimadas, o que impacta na necessidade de mobilização das forças de segurança dos municípios para o combate aos incêndios, aumento dos atendimentos nos postos de saúde em decorrência de doenças respiratórias e, principalmente, o aumento da demanda por água decorrente do longo período de estiagem, o que por sua vez desencadeia em mudanças de comércios locais, escassez e aumentos nos preços de alimentos. É um efeito cascata, que impacta vários negócios.
Clima seco e temperaturas altas impactam também os custos de operação do sistema elétrico do país, com a necessidade de acionar a bandeira tarifária vermelha, em que em resumo, representa um aumento de 7% para residências e 9% para indústrias.
As decisões empresariais hoje têm o poder de acelerar ou mitigar as mudanças climáticas. Contudo, a escassez de orientações práticas deixa muitas empresas sem o suporte necessário para navegar neste cenário complexo.
A Importância da Governança Climática nas Decisões Corporativas
Líderes empresariais vêm consistentemente classificando as mudanças climáticas como um dos principais riscos macroeconômicos para os próximos dez anos, tanto em termos de impacto, quanto de probabilidade, de acordo com o Relatório Anual de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial. Estima-se que o prejuízo financeiro global decorrente das mudanças climáticas pode variar entre US$ 4,2 trilhões e US$ 43 trilhões até 2100.Ao mesmo tempo em que a adaptação e mitigação do clima podem gerar até US$ 26 trilhões em oportunidades de investimento até 2030.
Os investidores estão cada vez mais atentos à forma como as empresas gerenciam esses riscos e oportunidades, entendendo que as mudanças climáticas terão impactos inevitáveis sobre os retornos financeiros, sejam eles positivos ou negativos.
“As mudanças climáticas representam um dos desafios mais urgentes que o mundo enfrenta. Com pouco tempo restante para salvar o planeta, é hora de os conselhos de administração liderarem com coragem e assegurarem a resiliência de suas empresas a longo prazo por meio de uma governança climática eficaz, para o bem da sociedade.”
Katherine Garrett-Cox, CEO, Gulf International Bank (UK) e membro do conselho fiscal, Deutsche Bank.
“Como líderes empresariais, temos a responsabilidade de garantir transparência sobre riscos e oportunidades climáticas, e encorajo uma colaboração para aprimorar a governança e divulgação relacionadas ao clima em todos os setores.”
Bob Moritz, Presidente do Conselho Global, PwC.
“A visão e as ações dos membros do conselho, dos CEOs e dos altos executivos são fundamentais para enfrentar os riscos decorrentes das mudanças climáticas e proporcionar uma transição mais suave para a economia de baixo carbono. Materiais como este novo relatório do Fórum Econômico Mundial, que ajudam os conselhos e os executivos a entenderem como cumprir as recomendações da TCFD, promovem um círculo virtuoso de adoção, em que informações em maior quantidade e com melhor qualidade criam imperativos para que outros adotem a TCFD e para que todos melhorem a qualidade das divulgações.”
Mark Carney, Presidente do Banco da Inglaterra e ex-Presidente do Financial Stability Board.
“Demoramos décadas para integrar a diversidade de gênero nos conselhos de administração; não podemos esperar outro tanto para priorizar as questões climáticas.”
David Crane, ex-CEO da NRG Energy e Líder da The B Team.
“Os investidores que contestam sua estratégia climática indicam que ela ainda não está suficientemente integrada à sua estratégia corporativa.”
Ann-Kristin Achleitner, membro dos conselhos de supervisão da Engie, Deutsche Börse, Linde e Munich Re.
Princípios de Governança Climática: Um Novo Modelo Estratégico
Os princípios de governança climática são ancorados em frameworks consolidados de governança corporativa, como os Princípios Globais de Governança da International Corporate Governance Network (ICGN) e as recomendações da Força-Tarefa do Financial Stability Board para Divulgações Financeiras Relacionadas às Mudanças Climáticas (TCFD).
Os Princípios de Governança Climática, são:
- Responsabilidade Climática nos Conselhos
- Domínio do Assunto
- Estrutura do Conselho
- Análise de Riscos e Oportunidades Materiais
- Integração Estratégica
- Incentivos
- Relatórios e Divulgação
- Intercâmbio de Conhecimento
Esses princípios não são regras fixas, mas ferramentas a serem trabalhadas nas estratégicas dos negócios, de forma a enriquecer as discussões e orientar decisões que considerem as particularidades entre mudanças climáticas e os negócios.
O conselho é composto por conselheiros internos, externos e independentes, o que permite uma maior interação entre os membros a informações diretas sobre a empresa, um peso administrativo menor e um processo decisório mais ágil. Conselheiros internos e externos desempenham papéis complementares na governança climática. Enquanto os conselheiros internos focam nas operações e gerenciamento de riscos climáticos dentro da organização, os conselheiros externos e independentes trazem perspectivas e expertise específicas que enriquecem a discussão e a tomada de decisões estratégicas.
Os conselhos precisam garantir que as questões climáticas sejam parte integrante da estrutura organizacional e dos processos de tomada de decisão. Isso inclui a utilização de análises de cenários para antecipar como diferentes horizontes de tempo e variáveis climáticas impactarão os negócios. A integração estratégica desses fatores é crucial para a resiliência organizacional.
É essencial que os conselhos liderem com propósito, exemplificando uma cultura de responsabilidade e compromisso com a sustentabilidade. Uma governança focada em mudanças climáticas não só aumenta a confiança dos stakeholders, como transforma o gerenciamento de riscos climáticos em uma prática estratégica e recompensadora.
Princípios de Governança Climática: Um Novo Modelo Estratégico
Algumas empresas tratam as mudanças climáticas e a sustentabilidade como questões independentes, e muitas vezes, publicam um relatório de sustentabilidade de forma dissociadados relatórios financeiros e climáticos, como se tais temas não fossem transversais. No entanto, como as mudanças climáticas têm o potencial de gerar impactos financeiros na organização como um todo, o relato integrado pode ser uma ferramenta eficaz para comunicar uma imagem clara e concisa de riscos e oportunidades globais, o que amplia consideravelmente a qualidade dos relatos.
“Encorajo todas as empresas a refletirem com seus conselhos sobre o verdadeiro propósito e papel na sociedade: é essencial focar no ‘porquê’ antes de se precipitar para o ‘como’ ao desenhar suas agendas de sustentabilidade.”
Feike Sijbesma, CEO, Royal DSM.