Resumo
Os reservatórios são utilizados para diferentes usos, principalmente para geração de energia elétrica. Desde sua instalação, ocorre uma significativa alteração no equilíbrio do meio, afetando os ecossistemas associados às bacias hidrográficas e as atividades antrópicas. A eutrofização é um processo natural ou artificial de aporte de nutrientes aos corpos de água, acarretando elevação da matéria orgânica superior à capacidade de autodepuração do sistema. Os principais impactos da eutrofização são: redução da qualidade da água; mortandade da biota aquática e deposição desta no fundo do reservatório; e crescimento excessivo de macrófitas aquáticas. Essas plantas aquáticas possuem diferentes funções como: favorecer a reciclagem de nutrientes; contribuir para alteração química da água; ser fonte de biomassa de microalgas e base alimentar de seres herbívoros. Porém, a proliferação excessiva das macrófitas aquáticas em um reservatório contribui para: prejuízos aos usos múltiplos; aumento do estado trófico e assoreamento; déficit de oxigênio, alterações nos padrões de estratificação térmica e de absorção da energia solar; e queda do pH da água, além de ser um substrato adequado para à proliferação de vários organismos indesejáveis e detrimento de outros importantes para este ecossistema. Existem diversos métodos para remoção parcial e controle da proliferação das macrófitas aquáticas. Desta forma, pretende-se com este estudo levantar dados que suportem a implantação de estratégias de manejo mais sustentáveis para controle da proliferação de macrófitas aquáticas no reservatório da PCH Carioca – MG, com um olhar para sua área de drenagem e diferentes atividades antrópicas existentes à montante do reservatório. Verificou-se que o maior fator de deterioração dos corpos de água da área de drenagem estudada está associado aos efluentes urbanos. Constatou-se após levantamento de dados, que se não houver investimentos na revitalização do Rio São João, integração dos usuários e governança, algumas atitudes no controle das macrófitas aquáticas serão paliativas e pouco expressivas ao longo dos anos.
Palavras-chave: macrófitas aquáticas, Eichhornia crassipes, PCH Carioca, Lago Azul e Rio São João.
Introdução
Nos dias atuais, onde a informação é abundante e rápida, poderíamos imaginar que o tema “demanda e manejo sustentável da água” seja de amplo conhecimento da maioria das pessoas e empreendimentos em geral, o que de fato não acontece, de modo especial no Brasil. Em geral, os diversos setores de consumo de água não possuem a preocupação de onde a mesma veio ou para onde ela vai e que talvez por observarem a água casualmente caindo dos céus, entendem que este seja um recurso infinito.
Ações antrópicas e/ou mudanças climáticas podem ocasionar problemas graves de escassez hídrica local, o que provoca conflitos, necessitando cada dia mais de medidas sustentáveis de manejo e distribuição da água disponível para seus usos múltiplos.
Há muitos anos, o homem vem construindo diversos reservatórios pelo mundo, estes são fundamentais para o seu desenvolvimento. Alguns dos usos múltiplos desses lagos artificiais são: regularização de vazão, abastecimento de água, controle de sedimentos, irrigação, navegação, pesca, aquicultura, lazer, prevenção de enchentes e, principalmente, para a produção de hidroeletricidade.
A Pequena Central Hidrelétrica – PCH Carioca (antiga Cachoeira do Rosário), popularmente conhecida como reservatório do “Lago Azul” é de propriedade da Companhia de Tecidos “SANTANENSE”. Segundo a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, esta PCH tem capacidade de geração de energia elétrica de 1.600 kW – quilowatts. A produção de energia elétrica é destinada ao uso exclusivo da SANTANENSE, sendo assim, considerada uma usina Autoprodutora de Energia – APE. A comercialização do excedente de energia elétrica gerada só pode ser realizada com a autorização da ANEEL.¹
A PCH do Carioca localiza-se na zona rural e é dividida pelos municípios de Pará de Mina, Minas Gerais – MG e Conceição do Pará – MG. Nos últimos quatro anos, a lâmina de água do reservatório praticamente desapareceu, isto, devido a grande proliferação de macrófitas aquáticas, principalmente os aguapés – Eichhornia crassipes.
A bacia hidrográfica federal da área de drenagem estudada é a do Rio São Francisco, a bacia estadual é a do Rio Pará e a sub-bacia a montante da PCH do Carioca é a do Rio São João. Nesta sub-bacia, além de sofrer com alterações internas do ecossistema lótico transformado em ambiente lêntico, a sua maior vulnerabilidade está no percurso do rio São João. A montante do reservatório, o rio São João percorre por algumas cidades que lançam os esgotos sanitários com pouco ou nenhum tratamento, além de receber os efluentes de empreendimentos minerários, agrossilvipastoris e indústrias.
A degradação ecológica do reservatório vem sido debatida em diversos setores, como na Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais – ALMG, na Câmara de Vereadores de Pará de Minas, na Prefeitura de Itaúna, na empresa SANTANENSE e em audiências públicas. O que demonstrou o grande interesse na conservação da PCH Carioca por parte política e comunitária, entretanto, poucas medidas foram aplicadas por estas partes.
Para o biólogo e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ricardo Mota Pinto Coelho, a solução para acabar com os problemas do “Lago Azul” é preciso olhar para a bacia hidrográfica em sua totalidade; mobilizar todos os seguimentos econômicos e sociedade no tratamento eficiente dos efluentes e revitalização do Rio São João.
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