O compromisso das organizações com as questões ambientais, sociais e de governança se tornou mandatório, não só pelo viés “business”, mas também pelo viés reputacional frente aos diversos stakeholders.
Implementar um Sistema de Gestão Integrado, nosso tão importante SGI, que segue as premissas das principais ISOs, de Gestão da Qualidade, Gestão Ambiental, de Saúde e Segurança Ocupacional, Responsabilidade Social e tantas outras, como Gestão de Riscos e Compliance, Segurança da Informação, que compreende uma boa gestão dos negócios em consonância às boas práticas do mercado, deixou de ser apenas uma busca pelo “certificado” ISO.
A Importância da Materialidade no Contexto ESG
Isso porque, estrategicamente, passou a ser uma busca por resultados competitivos no mercado frente a um cenário cada vez mais exigente, do ponto de vista dos consumidores, que buscam cada vez mais por marcas e produtos que transmitam transparência e compromisso com as questões ambientais e sociais, além claro, de darem bons retornos a seus investidores, acionistas e partes interessadas.
O impacto sanitário e econômico da COVID 19, trouxe consigo uma maior consciência social. A forma como as empresas se relaciona com seus stakeholders mudou, as expectativas cresceram e se intensificaram. Mais do que apenas uma tendência, há uma pressão da população em geral e investidores por negócios mais sustentáveis, que sejam responsáveis com o meio ambiente e busquem uma sociedade mais justa. O que estimulou empresas a refletirem sobre seus posicionamentos, sua capacidade de entregar o que realmente importa e de fazer tudo isso de forma econômica, ambiental e socialmente responsável.
Isso significa que o conceito ESG é o impacto positivo gerado, e um exercício de olhar o mundo de uma maneira mais ampla do que a que vinha sendo praticada através do SGI. Frente a este novo cenário, a evolução e a visão nos quesitos de qualidade, meio ambiente, saúde e segurança e responsabilidade social, por exemplo, devem se consolidar e serem geridos também considerando os diversos frameworks de sustentabilidade, como ISE, GRI, ODS, TCFD, SASB e outros.
A Materialidade é uma ferramenta estratégica fundamental para esse processo, que unifica diversos sistemas de gestão baseados nas normas ISO em uma estrutura coesa e, aqui, não estamos nos referindo apenas à Matriz da Materialidade, mas sim a todos os estudos e análises críticas e analíticas que a compõem, a exemplo da análise dos desafios de sustentabilidade do setor, benchmarking, priorização dos ODS, a própria dupla materialidade, considerando os impactos e a questão financeira.
Ou seja, sua implementação eficaz depende da identificação de riscos e oportunidades, impactos positivos e negativos, incluindo os financeiros, além da priorização de temas críticos para a sustentabilidade e o desempenho empresarial.
A Materialidade identifica e prioriza os temas de sustentabilidade mais relevantes para a organização, considerando os impactos internos e externos, o que também é trabalhado na Matriz SWOT, indispensável não só no processo de qualidade, como em todas as demais ISOs. Tanto a Materialidade, como a Matriz SWOT, permite uma análise profunda de cada um desses temas, facilitando ações que minimizam custos e melhoram a competitividade no mercado.
Como destacou o estudo “The Importance of Materiality in Corporate Strategy” (2018), uma análise de materialidade bem conduzida pode alinhar a estratégia corporativa com as expectativas dos stakeholders e as demandas do mercado.
Integração de Matrizes no SGI: Um Novo PDCA
Importante também destacar que, embora a matriz de materialidade e a matriz de riscos, que deve ser também utilizada, sejam conceitos distintos, sua integração no SGI é vital. A matriz de riscos foca na identificação e mitigação de riscos, enquanto a matriz de materialidade prioriza temas de maior impacto para os negócios. Segundo o documento “How to Set Up Effective Climate Governance on Corporate Boards” do Fórum Econômico Mundial, essa integração ajuda a criar valor, garantir a sobrevivência e promover o crescimento orgânico da empresa.
Integrar essas matrizes permite que as organizações identifiquem e gerenciem aspectos sociais, ambientais, de saúde e segurança, e econômicos de forma mais eficaz. Digamos que se trata de um PDCA mais completo. Isso é essencial para atender aos requisitos das normas ISO e garantir uma abordagem holística na gestão de riscos e oportunidades.
Uma materialidade bem implementada aumenta a transparência e fortalece a confiança com os stakeholders. O estudo “Materiality in Sustainability Reporting” (GRI, 2016) destaca que empresas que utilizam essa ferramenta conseguem comunicar melhor seus compromissos e impactos ambientais, sociais e de governança.
Transparência e Governança Corporativa com Materialidade
Conectar materialidade ao SGI e vice-versa, não só fortalece a governança corporativa como também promove a sustentabilidade a longo prazo. A publicação “Climate Governance Principles” do IBGC enfatiza que Conselhos de Administração responsáveis e informados sobre questões climáticas podem liderar com mais eficácia e garantir a resiliência das organizações diante das mudanças climáticas. Por exemplo, em fevereiro de 2024, um comunicado conjunto IAF – ISO divulgou novas diretrizes sobre a inclusão de considerações relacionadas às mudanças climáticas. A inserção contempla os itens 4.1 e 4.2 das normas de Sistema de Gestão. O novo texto proposto é de grande valia para reforçar a importância da adaptação e mitigação das mudanças climáticas nas práticas de gestão empresarial.
O tema é evidenciado também no item que reflete sobre a obrigatoriedade de levantamento de aspectos e impactos ambientais e a forma de minimiza-los, através de procedimentos operacionais, exigidos pelo requisito 6.1.2 pela ISO 14001 e a série de Normas ISO 14064, que trata sobre o Inventário de GEE .
Utilizar a materialidade como uma ferramenta integrada ao SGI é uma estratégia robusta para empresas que buscam alinhar suas práticas internas com as expectativas do mercado e dos stakeholders. Isso não só fortalece a governança corporativa, mas também promove um crescimento sustentável e a criação de valor a longo prazo.
Para uma leitura mais detalhada sobre a importância da materialidade na estratégia de uma organização, recomendamos o artigo “A Importância da Materialidade na Estratégia de uma Organização” disponível aqui.