A Transição Energética já se manifesta nas nossas vidas de diversas maneiras. Já está a pleno vapor, ainda que o termo em si e seu conceitual possam não ser claros ou difundidos para a maior parte das pessoas.
Aquelas lâmpadas de filamentos de tungstênio já tratadas como antigas, as etiquetas de eficiência energética do Inmetro presentes em novos produtos, residências com energia fotovoltaica, bicicletas, motos e carros elétricos, os impactos da guerra na Ucrânia na energia elétrica europeia, novos parques eólicos e um noticiário repleto de notícias que tangem a energia como tema relevante. Questões que consideram energia e redução das emissões de gases de efeito estufa tendem a ser considerados como parte da Transição Energética.
Assim, aos que tem o contato com o termo aqui pela primeira vez, trata-se basicamente de se renunciar ao uso de combustíveis de origem não renovável, como grande exemplo os de origem fóssil-petróleo, cujo uso gera gases de efeito estufa como o CO2. Entram nessa mira demais gases com tal capacidade, os chamados gases de efeito estufa, GEEs, comumente demonstrados por uma equivalência ao CO2 na atmosfera. Isso se deve ao fato de o efeito estufa experimentado em escala planetária causar diversos impactos negativos na Terra, dentre os quais alguns com maior percepção pela humanidade são os efeitos climáticos.
Enquanto isso, a economia mundial moderna é baseada nas fontes de energia como commodities. Em linhas gerais há emprego de energia, de tipos diversos como elétrica e combustíveis no dia a dia das pessoas, indústrias, serviços, logística e demais. É difícil elencar uma cadeia de valor, de produtos ou serviços, isenta ou com insignificante utilização de energia atualmente. De toda energia consumida no mundo, grande parte é de origem fóssil/não renovável como petróleo, carvão e gás natural, algo próximo dos 80% segundo a IEA. Isso significa que é e será complexo retirar as fontes não renováveis de energia do mundo até que se alcance por exemplo o grande objetivo da transição energética que é “limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais” segundo o site das Nações Unidas. Uma grande questão relacionada é que até hoje não há mecanismos economicamente viáveis que permitem a captura de GEEs/CO2 da atmosfera e os transformem em estado seguro fora do ar em escala e período necessários. Isso possibilitaria contrabalancear as emissões já realizadas pelo uso de fontes energéticas não renováveis. Parece óbvio, mas é uma nuance colocada de forma tímida nos debates, pois é sensível definir como seria financiada tamanha operação.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética EPE, no ano de 2022 52,6% da oferta interna de energia no Brasil foram de fontes não renováveis. Sendo o petróleo 35,7% e o gás natural 10,5% de participação. Por outro lado, a matriz energética Brasileira em 2022 teve 47,4% de fontes renováveis, enquanto o mundo apenas 14,1%. Isso nos indica que o Brasil possui posição de destaque em energias renováveis frente ao mundo. Já há reconhecimento, a exemplo do ODS n° 7 – Energia Acessível e Limpa, que indica que o Brasil está no caminho para alcançar este objetivo.
Desta forma, a palavra transição evoca naturalmente um estado existente para um novo. Diversas ações já são utilizadas e outras tantas são desenvolvidas no âmbito da Transição Energética com o objetivo geral de instituir mecanismos de incentivo a adesão e desenvolvimento de economia de baixo carbono e alta eficiência energética. Pode-se citar a implantação de políticas públicas como leis relacionadas, ações pelo setor privado como aquelas encampadas pelo ESG, uma grande corrida por alternativas tecnológicas, um notório esforço da indústria de veículos automotores para a eletrificação, desenvolvimento de novos combustíveis renováveis, tecnologias de melhoria de eficiência energética como desenvolvimento de novos materiais, machine learning e uma infinidade de tantos outros esforços. Por exemplo, atualmente já é possível verificar um aumento na oferta de veículos híbridos e totalmente elétricos, que aos poucos vem se tornando mais participativos na frota brasileira. Para organizações com aptidão à inovação, a transição energética é encarada como oportunidade de mercado e, por isso, há uma enorme lista de produtos e serviços que está em desenvolvimento e sendo colocada a prova para os consumidores.
O Mercado de Carbono é tema muito relevante e por isso algumas vezes pode-se ver sinonimizado com a Transição Energética que é mais ampla e encampa o primeiro. É um mercado com uma definição clara de escopo que permitiu atualmente já alcançar um desenvolvimento próprio. Há ainda lacunas como sua regulamentação, sistemas de auditorias e controles e demais mecanismos para que se torne ampla e efetivamente implantado. No Mercado de Carbono há uma busca pela valoração do carbono, quer seja nas emissões realizadas, na manutenção de carbono já existente como em florestas, no carbono que se deixa de emitir através de alternativas tecnológicas. A partir da valoração do CO2 e gases CO2 equivalente são propostos projetos que possibilitem um saldo positivo nas emissões de CO2 em relação àquelas já praticadas, ou a manutenção de carbono, como os estocados em vegetação. O CO2 que deixa de ser emitido por uma organização, ou aquele carbono mantido estocado em função de esforços pode ser tratado como um ativo que possui valor de mercado e pode ser negociado.
Todos os assuntos levantados anteriormente podem ser facilmente encontrados em pesquisas rápidas. Eles nos estabelecem o quanto a Transição Energética é complexa, multidisciplinar, seu escopo é abrangente e sem limites claros e bem definidos. Como é um estado de transição, se encontra em aberto!
Temos hoje um cenário de poucas certezas e muitas oportunidades. A Transição Energética no momento é uma tela quase em branco, cujos objetivos já estão colocados, mas os trabalhos foram apenas iniciados. Os modelos energéticos renováveis que substituirão as fontes fósseis estão em franca competição. Atualmente o modelo baseado em petróleo é dominante nos veículos como carros, motos, aviões, navios e trens. Intuitivamente podemos pensar que se deve haver uma outra grande fonte energética que dominará a matriz nos supracitados modais de transporte. Isso pode acontecer, mas também não está descartada uma reinvenção da matriz energética nos modais de transporte, com mais de uma fonte energética. Se retomarmos o aspecto da transição há ainda outro cenário relevante, a viabilidade econômica de cada alternativa tecnológica num dado tempo. Isso nos adianta que em escala temporal haverá fontes que hoje são boas e viáveis e que em futuro poderão dar lugar a outras melhores. Será uma seleção de mercado.
Contudo, o ponto de equilíbrio ou break-even point de CO2 emitido vem sendo discutido como um relevante aspecto a ser notado para escolhas racionais de tecnologias com objetivo de produtos ou serviços de baixo carbono ou isentos de emissões. O fato é que atualmente as grandes cadeias de valor possuem expressiva emissão de GEEs. Mesmo aqueles produtos bastante alinhados com a não emissão de GEEs, por exemplo, os veículos elétricos, trazem uma carga de GEEs gerados na sua produção. Isso significa que grande parte dos produtos com esse apelo demandam um determinado uso para que somente a partir do break-even o objetivo relacionado às emissões de GEEs seja alcançado de forma positiva. E esse determinado uso ainda pode ser expressivo.
Além disso, tempos atrás começaram a circular fotografias de veículos elétricos sendo carregados em pontos cuja fonte eram geradores à diesel. Essa cena nos permite enxergar a complexidade de a Transição Energética se desenvolver e consolidar. Novas tecnologias requerem difusão e aceitabilidade com viabilidade econômica. Isso demanda muito tempo e esforços diversos.
Todavia, Hoje ganha campo no debate o termo justiça energética. Seria justo exigir de nações em desenvolvimento uma aderência a requisitos e critérios para adoção de alternativas tecnológicas de baixo carbono que são economicamente dispendiosos se persistem questões como fome e saúde? No entanto, o problema contemplado pela Transição Energética é global e sentido por todos.
Logo, o meio ambiente é o ponto central ante aos desafios colocados pela Transição Energética. Há que se valorar as emissões e os estoques de carbono, monitorá-los, auditá-los, realizar estudos diagnósticos, estudos estratégicos, estudos de ESG, valorar e conhecer o meio ambiente e socioeconomia em alinhamento aos objetivos da Transição Energética, transformá-los em ativo e diferencial competitivo. Futuramente será possível haver um instrumento de licenciamento ambiental dedicado à Transição Energética e economia de Baixo Carbono. Nós, enquanto executores de estudos e serviços ambientais, temos como rotina o desenvolvimento de trabalhos multidisciplinares, complexos, muitas vezes novos ou sem precedentes e intimamente relacionados ao desenvolvimento de alternativas tecnológicas ou locacionais de novos negócios pelo mercado. Portanto, temos aptidão para contribuir de forma ativa e natural com as demandas da Transição Energética.
Contem com a CLAM!