Em Junho de 2024, foi publicado o relatório “The Sustainable Development Goals Report 2024” pelo Fórum Econômico Mundial que, além de servir como uma avaliação do progresso global em direção ao cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU na Agenda 2030, identifica lacunas e desafios, orienta para ações futuras, destaca os gaps de financiamento e demonstra a necessidade de parcerias eficazes. Logo, é um Relatório extremamente rico em dados, informações, análises críticas que, se muito bem estudados e considerados dentro de um planejamento estratégico de uma empresa, podem contribuir e muito.
Crise de Refugiados e Conflitos Armados
O Subsecretário-Geral para Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, Li Junhua, em sua carta introdutória, expõe que “O Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2024 revela que o progresso parou ou foi revertido em várias frentes, apesar das promessas reafirmadas. Assim como, os impactos persistentes da COVID-19, agravados por conflitos, choques climáticos e turbulências econômicas, exacerbaram as desigualdades existentes. Em 2022, mais de 23 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza extrema e mais de 100 milhões passaram fome em comparação a 2019. Embora algumas metas de saúde tenham melhorado, o progresso global geral na saúde desacelerou alarmantemente desde 2015. Igualmente, a pandemia de COVID-19 reverteu quase 10 anos de progresso na expectativa de vida. A educação, a base do desenvolvimento sustentável, permanece gravemente ameaçada à medida que muitos países veem declínios nas habilidades de matemática e leitura dos estudantes, comprometendo competências essenciais que determinarão a prosperidade futura”.
Desafios Ambientais e Mudanças Climáticas
Assim, não bastasse os desafios mencionados, Li Junhua ressalta que “guerras estão desestabilizando milhões de vidas, resultando no maior número de refugiados (37,4 milhões) e pessoas deslocadas à força (quase 120 milhões) já registrado. Do mesmo modo, as baixas civis em conflitos armados aumentaram 72% entre 2022 e 2023, o maior pico desde a adoção da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável em 2015. Em 2023, 4 em cada 10 civis mortos em conflitos eram mulheres e 3 em cada 10 eram crianças”.
Ainda ressalta que, “O impacto cumulativo de múltiplas crises ambientais está ameaçando as fundações dos ecossistemas planetários. Nesse sentido, em 2023, o mundo experimentou o ano mais quente já registrado. Pela primeira vez, as temperaturas globais estavam perigosamente próximas do limite inferior de 1,5°C do Acordo de Paris. As emissões globais de gases de efeito estufa e as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono atingiram novos recordes novamente em 2022, sem sinais de desaceleração em 2023”.
Neste sentido, vale a pena a leitura do artigo “A Importância da Ótica dos Riscos Socioambientais na Tomada de Decisão das Organizações”, em que citamos o estudo publicado pela Science Advances[1], realizado pela Universidade de Copenhague, na Dinamarca, que indica que, pelo menos seis dos nove limites planetários[2], já tenham sido ultrapassados devido à atividade humana. O que significa dizer que a Terra está agora fora do espaço de operação seguro para a humanidade.
A Necessidade de Cooperação Global
Desta forma, não existe culpar Governo, Empresas e Sociedade, todos devem se unir e trabalhar juntos para superar todos esses desafios, dentro de um senso de cooperação e corresponsabilidade. Como bem disse Junhua “O mundo deve agora confrontar de frente as múltiplas crises que ameaçam o desenvolvimento sustentável, mobilizando a determinação, a engenhosidade e os recursos que tais apostas elevadas exigem”.
Contudo, Não tem como falarmos sobre os desafios globais sem citar a “tripla crise planetária de mudança climática, poluição do ar e perda de biodiversidade”. E colocando uma lupa sobre as questões climáticas esmiuçadas no Relatório (página 35), os números são muito alarmantes:
- A crise climática acelerou em 2023, com recordes climáticos quebrados e temperaturas em ascensão contínua.
- A comunidade global enfrenta um ponto crítico. Todos os países devem urgentemente acelerar transformações de baixo carbono em toda a economia para evitar custos econômicos e sociais crescentes.
- O caminho para interromper o aquecimento a 1,5°C e evitar o pior do caos climático é claro, mas não pode haver atrasos ou medidas insuficientes. Reduções drásticas nas emissões globais de gases de efeito estufa devem ocorrer até 2030 e alcançar zero líquido até 2050.
- As emissões globais de gases de efeito estufa atingiram um novo recorde de 57,4 gigatoneladas de CO2 equivalente em 2022. Cerca de dois terços dessas emissões foram de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis e processos industriais. Exceto no setor de transportes, as emissões de todos os principais setores aumentaram desde a pandemia e agora excedem os níveis de 2019. O setor de energia, responsável por 86% das emissões globais de CO2, continua sendo o maior contribuidor, impulsionado pela expansão da geração de energia a carvão e gás. Os governos planejam produzir cerca de 110% mais combustíveis fósseis até 2030 do que seria consistente com a limitação do aquecimento a 1,5°C.
- Manter o aquecimento a 1,5°C requer uma redução de 42% nas emissões de gases de efeito estufa até 2030, exigindo uma queda anual de 8,7%. Para um limite de 2°C, é necessária uma queda de 28% até 2030 ou uma redução anual de 5,3%. A única queda comparável foi de 4,7% durante a pandemia de 2019 a 2020.
- As políticas nacionais atuais colocam o mundo no caminho para um aquecimento de 3°C. As NDCs reduzem isso para 2,5°C, enquanto todas as promessas de zero líquido colocariam o aquecimento em 2°C, embora essas promessas sejam altamente incertas. Atualmente, há apenas 14% de chance de limitar o aquecimento a 1,5°C, destacando a urgência de ação imediata e acelerada para cortar significativamente as emissões nesta década.
- As emissões de gases de efeito estufa mais altas de todos os tempos revelam um fracasso global em cumprir as metas climáticas.
Por fim, Faço das palavras de Li Junhua as minhas “Ainda é possível criar um mundo melhor, mais sustentável e mais inclusivo para todos até 2030. Mas o tempo está se esgotando. Devemos agir agora, e agir com ousadia”.
[1] Terra além de seis das nove fronteiras planetárias | Avanços da Ciência (science.org)