No artigo A importância da ótica dos riscos socioambientais na tomada de decisão das organizações vimos que, no Relatório de Riscos do Fórum Econômico Mundial de 2024, os riscos climáticos apareceram no topo de ambas as tabelas, seja dentro de uma visão de curto prazo (até 2 anos), ou de longo prazo (até 10 anos), tanto em termos de probabilidade, considerando que os riscos de eventos extremos e de falha na ação para a crise climática ocupam as primeiras posições, quanto em termos de impacto, considerando a incapacidade de gerir tal crise.
Entendendo os Riscos Climáticos
Desta forma, falando em Riscos Climáticos, podemos pensar nos Riscos Físicos subdivididos em Perigos Crônicos (como, por exemplo, elevação do nível do mar, padrões de temperatura, seca) ou Perigos Agudos (como, por exemplo, precipitação e inundação, ventos extremos, ciclones), que poderiam ser trabalhados dentro de uma estratégia de adaptação climática e de uma ótica de “bem público”.
Igualmente, temos, ainda, os Riscos de Transição, como os Riscos Legais e Regulatórios, Riscos Reputacionais, Riscos Tecnológicos, Riscos de Mercado, que podem ser trabalhados dentro de uma estratégia de mitigação climática e de uma ótica de “bem privado e/ou localizado”, como bem costuma destacar o Professor Guarany Osório[1] em suas postagens e aulas.
Importância dos Fluxos Financeiros no Combate às Mudanças Climáticas
Independentemente de qual risco esteja sendo abordado, é certo que as empresas e as instituições financeiras desempenham um papel primordial na transição para uma economia circular e de baixo carbono.
Da mesma forma, o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) é uma iniciativa pioneira do Observatório do Clima (“OC”), e oferece uma análise abrangente e atualizada das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Este sistema engloba a geração de estimativas anuais de emissões, além de fornecer documentos analíticos que discutem a trajetória dessas emissões ao longo do tempo. Uma plataforma digital dá suporte ao SEEG, hospedando tanto os dados quanto a metodologia utilizada para as estimativas.
Contudo, o SEEG abrange todos os principais gases de efeito estufa listados no inventário nacional do Brasil, incluindo dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e hidrofluorocarbonetos (HFCs). Os resultados são apresentados em termos de CO2 equivalente (CO2e), utilizando as métricas de Potencial de Aquecimento Global (GWP) e Potencial de Mudança de Temperatura Global (GTP), conforme os fatores de conversão estipulados no segundo, quarto e quinto relatórios de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC AR2, AR4 e AR5).
Este sistema desempenha um papel crucial ao fornecer insights valiosos para políticas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas no país.
Abaixo, segue a tabela de estimativa de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil em 2022[2]
Desafios e Barreiras no Financiamento Climático
O Acordo de Paris[3] destaca a importância de direcionar os fluxos financeiros para trajetórias de baixa emissão de gases de efeito estufa e desenvolvimento resiliente (Artigo 2.1c). Essencialmente, o Artigo 2.1c reconhece a necessidade de alinhar o financiamento global – tanto público quanto privado – com os objetivos de longo prazo do Acordo de Paris. Isso implica direcionar investimentos para tecnologias, projetos, produtos e serviços que apoiam a redução de emissões de carbono e aprimoram a resiliência às mudanças climáticas, além de afastar investimentos de atividades que contribuem para o aquecimento global.
Portanto, a intenção é assegurar que o financiamento e os investimentos globais estejam em sinergia com a meta de limitar o aumento da temperatura global abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais, e fazer esforços para limitar esse aumento ainda mais, a 1,5°C[4].
Mas afinal, por que estamos tão longe desses objetivos?
Estudos indicam várias razões para isso, como a falta de incentivos tangíveis; o embaraço das empresas em considerar externalidades ambientais dentro de seu planejamento estratégico; baixos retornos percebidos para práticas de sustentabilidade (aqui considerando as empresas que só levam em consideração os capitais tangíveis); percepções de alto custo nas tecnologias de economia circular e de baixo carbono; diferenças significativas entre os longos períodos necessários para obter retornos financeiros e as expectativas de retorno de curto prazo dos investidores privados; e a falta de informações e de conhecimentos adequados para avaliar projetos climáticos.
Não é demais lembrar que, além de todas as barreiras acima abordadas, existem barreiras políticas, institucionais e legais que aprofundam esses desafios, especialmente na ausência de coordenação e de uma governança política.
Para além de dúvidas que porventura surjam de como o financiamento climático pode ser implementado, certo é que ele é um caminho sem volta para um desenvolvimento climático resiliente.
[1] (17) Guarany Osório | LinkedIn.
[2] Fonte: SEEG – Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, Observatório do Clima, acessado em 12-06-2024 – seeg.eco.br.
[3] parisagreement_publication.pdf (unfccc.int)
[4] Sustainable Development Goal 13: Ação contra a mudança global do clima | As Nações Unidas no Brasil.