Uma ferramenta essencial para a Gestão de Recursos Hídricos
O biomonitoramento pode ser definido como um conjunto de técnicas capazes de avaliar a qualidade ambiental de ecossistemas, que podem ser aplicadas aos ambientes aquáticos ou terrestres. É uma ferramenta essencial para a gestão ambiental eficiente, pois permite diagnósticos eficientes e mitigação de impactos significativos.
O que é Biomonitoramento?
O termo “monitorar” se refere ao acompanhamento de maneira regular ou observação contínua de um processo, com o objetivo de verificar as condições e variações das suas propriedades. O termo é utilizado em diversas áreas (e.g. medicina, segurança, tecnologia etc.) e na área ambiental o termo é frequentemente associado ao prefixo “bio”, indicando o uso de organismos como objeto do estudo. Dessa maneira, biomonitoramento pode ser definido como o uso sistemático das respostas de organismos para avaliar alterações antrópicas no Meio Ambiente, a fim de contribuir para programas de controle de qualidade.
Origem do Biomonitoramento
A utilização de animais como indicadores de qualidade ambiental teve início com a prática de adotar canários nas atividades de extração em minas de carvão na Inglaterra durante a Revolução Industrial no século XIX. As minas de carvão podem liberar gases tóxicos, gerando riscos à saúde e à vida dos trabalhadores. Dessa maneira, os mineiros adotaram uma solução para o problema, passando a trabalhar com os canários dentro de gaiolas nestes ambientes. Se eles parassem de cantar, morressem ou apresentassem qualquer alteração significativa de comportamento, era o primeiro sinal de que poderiam ter gases tóxicos no ar e os mineiros deveriam sair imediatamente. A partir desse mecanismo surge o termo em inglês Canary in a coal mine, ou seja, “Perigo à vista”. Esse arcabouço teórico criado a partir do monitoramento da qualidade do ar em minas de carvão foi a base para criar o conhecimento do monitoramento dos ecossistemas aquáticos.
Bioindicadores de Qualidade de Água
Os indicadores ambientais ideais são grupos de organismos considerados taxonomicamente estáveis, de identificação fácil, distribuição ampla, abundantes, com ciclo de vida relativamente longo e características ecológicas conhecidas. Organismos sensíveis (famílias de macroinvertebrados bentônicos como Gripopterygidae, Calamoceratidae, Xiphocentronidae, por exemplo) não toleram impactos significativos, portanto, a sua presença indica qualidade ambiental boa. Por outro lado, os organismos resistentes (como Chironomidae e Oligochaeta) toleram níveis altos de poluentes e ocorrem em abundância elevada em ecossistemas impactados.
Historicamente os grupos mais utilizados como bioindicadores em ambientes aquáticos são os macroinvertebrados bentônicos, zooplâncton e fitoplâncton, no entanto, outros grupos também podem ser utilizados como bactérias, macrófitas aquáticas e peixes. A definição dos grupos a serem contemplados em cada estudo deve ser realizada pelo órgão ambiental competente, junto ao empreendedor.
Biomonitoramento de Qualidade da Água
O biomonitoramento de ecossistemas aquáticos, por sua vez, é uma ferramenta que tem como objetivo avaliar a qualidade de corpos d’água através dos organismos (ou das respostas destes diante dos impactos). Isso significa que, de acordo com táxons que ocorrem em determinado corpo d’água, podemos inferir a sua saúde ambiental. Ou seja, o aumento significativo de poluentes no sistema leva à redução (por mortalidade ou migração) das populações dos organismos mais sensíveis, evidenciando que a saúde do corpo d’água não está boa.
Dessa maneira, é possível realizar um diagnóstico da saúde de um corpo d’água mediante o uso de índices bióticos (e.g. diversidade de Shannon, BMWP, % EPT) que são calculados a partir da composição da comunidade amostrada. Além do uso dos bioindicadores, é importante aliar aos dados de parâmetros físico-químicos da água. A avaliação conjunta de dados permite caracterizar o ambiente de maneira integrada, identificar alterações significativas e propor medidas de controle ambiental.
Conclusão
Em síntese, a qualidade da água é um reflexo da saúde da sociedade responsável pela sua gestão e o biomonitoramento é uma ferramenta eficaz para a gerenciamento sustentável dos recursos hídricos, uma vez que permite a identificação prévia de impactos, implementação de medidas de mitigação e redução de custos. Além disso, é possível integrar as técnicas e os resultados entre as comunidades locais, os comitês de bacias hidrográficas, empreendedores, além das instituições de educação e pesquisa da região. Essa integração promove engajamento ambiental, otimiza a tomada de decisões e fortalece a confiança entre todas as partes envolvidas.