A Responsabilidade Social, por muitas vezes foi vista como ações de filantropia nas organizações, por ser composta por ações voluntárias das empresas em benefício da sociedade, incluindo iniciativas voltadas aos agentes internos e externos.
Implementar normas, como a SA8000, norma internacional de Gestão da Responsabilidade Social, que foi publicada em 1997, assim como a ABNT NBR 16001:2012 que foi desenvolvida em 2004 pela Associação Brasileira de Normas e Técnicas e tem como intuito estabelecer padrões para a implantação de um sistema de gestão de responsabilidade social, sempre foi visto como “custo” pelas organizações.
Inclusive, neste sentido, o próprio Milton Friedman, um dos economistas mais influentes do século XX e defensor do liberalismo econômico e do livre mercado, dizia que a única Responsabilidade Social das empresas, era aumentar seus lucros dentro dos limites legais.
O cumprimento legal, nas esferas, federal, estadual e municipal, era, por muitas vezes, o motor decisório para a atuação da Socioeconomia nas empresas, isso porque as exigências legais, consideram, desde a fase de licenciamento, à sua operação como condicionantes.
O papel da responsabilidade social no planejamento estratégico
Ocorre que, estamos vivendo uma nova era, onde a Sustentabilidade ganhou um espaço importante nos planejamentos estratégicos das organizações. Importante ressaltar que a Responsabilidade Social, faz parte de uma “pequena” fatia da Sustentabilidade, que é muito mais ampla, abrangendo também as questões ambientais e de governança.
Ainda assim, o Social não se trata somente do interno, ou seja, das condições de trabalho como acontece na SA 8000, em que o foco é na vedação de trabalho infantil, forçado, saúde e segurança ocupacional, nas questões de discriminação, equalização salarial entre mulheres e homens, dentre outras.
Sustentabilidade: muito além da responsabilidade social
Já a Sustentabilidade também abarca as condições de trabalho, o capital humano, a saúde e segurança, mas ela é transversal à outras temáticas ambientais, e de governança corporativa, como pegada de carbono, consumo de água, biodiversidade, ética nos negócios, diversidade no Conselho, direito de acionistas, respectivamente.
ISO 26000 e o valor compartilhado como estratégia de negócios
Segundo a ISO 26000, a responsabilidade social se expressa pelo desejo e pelo propósito das organizações em incorporarem considerações socioambientais em seus processos decisórios e a responsabilizar-se pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente.
Isso implica um comportamento ético e transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável, que esteja em conformidade com as leis aplicáveis e seja consistente com as normas internacionais de comportamento. Também implica que a responsabilidade social esteja integrada em toda a organização, seja praticada em suas relações e leve em conta os interesses das partes interessadas. Nota-se, pois, que a teoria do valor compartilhado surge para mostrar a correlação da sustentabilidade com estratégias de negócios das empresas, defendendo que estas devem gerar valor econômico e também valor para a sociedade. Segundo Michael Porter, o valor compartilhado pode ser a próxima onda do crescimento mundial, movida pela transformação no pensamento administrativo, e promovendo uma mudança de paradigma no capitalismo tradicional.
A abordagem de valor compartilhado e os mercados futuros
Diversos setores da economia começam a entender que as necessidades sociais, assim como as econômicas convencionais, definem os mercados, e os danos sociais podem criar custos internos para as empresas, onde os benefícios não se restringem à empresa e seus acionistas, mas se estendem à sociedade e ao meio ambiente.
Adotar uma abordagem de valor compartilhado significa que a empresa não apenas melhora seu desempenho financeiro, mas também contribui para o desenvolvimento sustentável, fortalecendo o relacionamento com stakeholders e aumentando sua resiliência no longo prazo.
Fonte: ISO 26000
Comunidade e engajamento: agentes de transformação
Pensar em valor compartilhado, é pensar no pilar social como um pilar transversal, e o ponto de partida para criar essa economia baseada no valor compartilhado é identificar todas as necessidades, benefícios e danos sociais que estão ou podem estar incorporados aos produtos ou serviços da empresa.
A comunidade é um agente de transformação e muitas vezes decisório para a operação de determinados negócios, o que, muitas vezes pode trazer oportunidades de diferenciação e reposicionamento em mercados tradicionais e a reconhecer o potencial de novos mercados que eles anteriormente negligenciavam, através de escutas ativas e de processos de engajamentos contínuos.